





Personalidade
Personalidade é o conjunto de características psicológicas que determinam a individualidade pessoal e social de uma pessoa. A formação da personalidade é um processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. O termo é usado em linguagem comum com o sentido de "conjunto das características marcantes de uma pessoa", de forma que não se pode dizer que uma pessoa "não tem personalidade"; esse uso, no entanto, leva em conta um conceito do senso comum e não o conceito científico aqui tratado.
Para Carver e Scheier: "Personalidade é uma organização interna e dinâmica dos sistemas psicofísicos que criam os padrões de comportar-se, de pensar e de sentir; característicos de uma pessoa". Esta definição de trabalho salienta que personalidade:
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é uma organização e não um aglomerado de partes soltas;
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é dinâmica e não estática, imutável;
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é um conceito psicológico, mas intimamente relacionado com o corpo e seus processos;
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é uma força ativa que ajuda a determinar o relacionamento da pessoa com o mundo que a cerca;
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mostra-se em padrões, isto é, através de características recorrentes e consistentes expressa-se de diferentes maneiras - comportamento, pensamento e emoções.
Asendorpf complementa essa definição. Para ele personalidade é particularidades pessoais duradouras, não patológicas e relevantes para o comportamento de um indivíduo em uma determinada população. Esta definição acrescenta alguns pontos importantes:
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Os traços de personalidade são relativamente estáveis no tempo;
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As diferenças interpessoais são variações frequentes e normais - o estudo das variações anormais é objeto da psicologia clínica.
A personalidade é influenciada culturalmente. As observações da psicologia da personalidade são, assim ligadas, apenas à população em que foram feitas; para uma generalização de tais observações para outras populações é necessária uma verificação empírica.
Aspectos da personalidade
Personalidade é, como se viu, um conceito complexo, com várias facetas. A seguir, veremos alguns aspectos que costumam ser considerados como partes da personalidade ou que a influenciam de maneira especial.
Forma física e personalidade
A relação entre forma física e personalidade estimula a imaginação de filósofos e pensadores desde a antiguidade. Kretschemr propôs nos anos 20 do século XX uma classificação dos tipos físicos que, supunha ele, estavam relacionados com diferentes transtornos mentais, posteriormente com diferentes temperamentos. Ele classifica três tipos físicos:
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Tipo longilíneo ou leptossômico, de corpos delgados, ombros estreitos, peito aplainado, rosto alargado e estreito, membros longos e delgados. Teria uma maior tendência para a esquizofrenia e um temperamento mais sensível;
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Tipo atlético ou muscular, de sistema ósseo e muscular desenvolvidos, ombros largos, cadeiras estreitas e pescoço grosso. Teria tendência para a epilepsia e um temperamento intermediário entre os outros dois;
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Tipo brevelíneo ou pícnico, de rosto arredondado, abdome saliente, membros curtos. Tenderia à ciclotimia¹ e a um temperamento mais tranquilo.
A relação correlativa entre essas características foi inicialmente empiricamente comprovada. Análises posteriores mais exatas, que levavam em conta outras variáveis - como a idade - e usavam métodos mais objetivos, acabaram por derrubar a teoria de Kretschmer.
No entanto a possibilidade de haver uma real relação entre forma física e características psicológicas não é improvável, mas não de maneira direta, como pensava Kretschmer.
A forma física pode:
1 - através de um processo de autopercepção, ser considerada positiva ou negativa e, assim, influenciar a autoestima, influenciando assim os traços de comportamento;
2 - influenciada pela percepção que a pessoa tem de si, influenciar os motivos e interesses da pessoa, influenciando assim também as tendências de comportamento da pessoa. No entanto não apenas a autopercepção pode influenciar a autoestima e os interesses de alguém; o juízo de outras pessoas e a reação destas desempenham também um importante papel nesse processo, de forma que as características de comportamento estáveis (assim a personalidade) são influenciadas indiretamente.
DESENVOLVIMENTO DA PERSONALIDADE
A estabilidade da personalidade
A pesquisa empírica conseguiu determinar quatro princípios para descrever a estabilidade dos traços de personalidade:
Quanto maior o intervalo entre a primeira e a segunda medição, maior a mudança - ou seja, os traços da personalidade se modificam com o passar do tempo;
Em diferentes áreas da personalidade a estabilidade também é diferente - por exemplo: durante a vida a inteligência tem uma estabilidade muito alta; já o temperamento tem uma estabilidade mediana enquanto a autoestima pode variar muito.
Muitos traços da personalidade são tanto mais instáveis quanto mais instável é o ambiente social - assim mudanças bruscas no ambiente podem trazer consigo mudanças na personalidade da pessoa;
Na infância, quanto mais cedo é feita a primeira medição, mais instáveis são os traços da personalidade - isto é, com o aumento da idade há uma tendência de estabilização das características da personalidade, se bem que na puberdade possa haver alguns momentos passageiros de instabilidade. Duas razões são apresentadas para esse aumento na estabilidade da personalidade:
No decorrer do desenvolvimento, a autoimagem torna-se cada vez mais estável - o conhecimento que a criança tem de si mesma cresce com o tempo e, se o ambiente for relativamente estável, também a estabilidade nas formas de reação a ela cresce;
Com o aumento da idade aumenta também a possibilidade de a criança modificar o seu ambiente a fim de que ele de adeque à própria personalidade - a criança pode escolher as atividades que lhe agradam, os amigos, etc.
Não apenas os traços individuais tendem a se tornar cada vez mais estáveis - o perfil geral da personalidade também tende a uma crescente estabilidade.
Nota:
1 - Ciclotimia é uma doença afetiva e uma forma de distúrbio bipolar do humor. É consistindo em recorrentes variações de humor, variando entre hipomania e distimia (depressão crônica leve) ou depressão. Um único episódio de hipomania é suficiente para diagnosticar a ciclotimia, entretanto, a maior parte dos afetados também sofre com períodos de distimia. A porcentagem da população que sofre com a esta doença gira em torno de 0.4% a 1%. A freqüência é igual para homens e mulheres, mas normalmente as mulheres procuram tratamento mais rapidamente.
Texto extraído da Apostila de Estudo da Personalidade e Psicologia Geral.